22 de jan. de 2011

DIÁLOGO SOBRE ILUMINAÇÃO





Enquanto Niestévisky caminhava pelo jardim, verificando como estava a saúde física e mental das suas petúnias premiadas, o discípulo se aproxima e pergunta:

Discípulo: Mestre, desculpe interromper, mas estou com dificuldades para meditar e preciso de sua ajuda. Como faço para meditar corretamente?

Niestévisky: Simples, basta ficar parado e não pensar em nada.

Discípulo: Isso eu sei, mas é complicado. Eu já tentei várias vezes, mas quando eu começo a não pensar, logo penso, “consegui, não estou pensando em nada!” E ai já estou pensando em algo, e a meditação vai por água abaixo.

Niestévisky: Bem, você tem que ser paciente, a prática leva a perfeição.

Discípulo: Sim mestre, é isso que estou fazendo, mas confesso que às vezes me dá vontade de desistir. Não existe alguma técnica que me facilite atingir o objetivo?

Niestévisky: Sim, existe, mas é um método muito radical e perigoso, que poderá comprometer a sua mente de maneira irreversível.

Discípulo: Tudo bem, estou disposto a me arriscar. O meu desejo de me conectar com o universo é maior do que qualquer outra coisa.

Niestévisky: Então tudo bem, já que você assume os riscos, eu conto. Se, ao meditar, você não conseguir calar a sua mente, silenciar os seus pensamentos e não pensar em nada, crie em sua casa um lugar especial para meditação.

Discípulo: E como deve ser esse lugar?

Niestévisky: Retire tudo o que houver num quarto, então, quando o quarto estiver vazio, coloque no centro dele uma poltrona confortável. Depois disso, coloque uma cortina grossa na janela, de modo que impossibilite qualquer visão exterior que possa distrair a sua atenção. Melhor ainda se você eliminar completamente a janela, fechando-a com tijolos.

Discípulo: Hum, e fazendo isso poderei meditar com mais facilidade?

Niestévisky: Ainda não, falta o principal.

Discípulo: E o que é?

Niestévisky: Bem, como o seu objetivo ao meditar é não pensar em nada, você deverá colocar na sala um objeto que irá auxiliá-lo muito para alcançar o objetivo.

Discípulo: E o que é? Uma estátua de algum deus, uma relíquia, uma mandala, ou algo assim?

Niestévisky: Quase, instale uma televisão na sala.

Discípulo: Uma televisão?!?!

Niestévisky: Isso mesmo. Depois é só sentar na poltrona e assistir. Garanto que ao ser exposto a odses maciças de televisão, logo você não estará pensando em nada. E não se esqueça, dê preferência aos canais abertos, e aos programas mais populares. Mas cuidado, pode ser uma viajem sem volta. Se você sentir que seu cérebro está começando a escorrer pelos seus ouvidos, desligue o aparelho rapidamente.

Discípulo: Que método estranho...E o senhor já tentou esse método?

Niestévisky: Sim, tentei, mas foi traumático. Tive que lutar contra tentações terríveis.

Discípulo: Por exemplo?

Niestévisky: Bem, comecei a sentir desejos estranhos, vontade de comprar jogos de ferramenta, sanduicheiras elétricas, parafernálias eletrônicas de todos os tipos. Além disso, passei dias sendo atormentado pela lembrança de jingles comerciais e refrões de músicas de quinta categoria. No auge me deu vontade de fazer coisas bizarras como ir para a Disney, comprar um chapéu com orelhas do Mickey e tirar fotos ao lado de um cara vestido de Pateta. Mas eu resisti e superei esses pensamentos. Bem, resumindo, foi assim, depois de alguns dias de amortecimento mental, finalmente atingi a iluminação.

Discípulo: Ah, então o senhor atingiu a iluminação?!?!

Niestévisky: Sim.

Discípulo: E como é?

Niestévisky: É muito bom, a sensação é indescritível. Mas, para ser franco, não me lembro muito bem, já faz muito tempo que ela acabou.

Discípulo: Mas eu pensei que a iluminação fosse algo perpétuo.

Niestévisky: Que nada, eu fiquei iluminado por apenas 6 meses.

Discípulo: E depois desse tempo, o que aconteceu.

Niestévisky: Um dia O Universo mandou um anjo até mim, e ele cortou a iluminação por falta de pagamento.

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