8 de set. de 2010

Do Homem

Do homem

Deixei passar pela fresta um pouco de luz, mas mesmo assim desliguei toda a minha preocupação com o que pudesse acontecer comigo no exato momento que dei por conta de que me adentrava por um universo feminino, estranho e diferente. Lembro que nessa noite dormia como um anjo, nem se preocupando com a inesperada natureza de um estranho, que até então era. Esta era a sensação que lembrava da primeira vez em que dormi em seu apartamento. Era um misto de medo, insatisfação com o desconhecido, tesão, poder e confesso que conforto também. Tinha sido Carnaval ontem. Estávamos nus e abraçados. Soltos em um lençol que não nos comportava pelo calor. Antes de se declarar presente – o seu perfume – morria entre a cova de suas bochechas e me alardeava, depois durante os dias, por viver pensando em uma mulher que conheci em um dia, em uma rua, em uma praça, lotada vazia de pessoas interessantes, mas antes, ali estava, parecendo me esperar com um Top Abada, dançando um ritimo que deixava o seu corpo mostrar um certo tom de erotismo. Poucos homens hoje em dia se confessam seduzidos ou até mesmo apaixonados. Estive sim, apaixonado por uma transeunte, por uma mulher que eu nem conhecia realmente. Meu coração estava solto em um espaço de tempo e fora, completamente fora de razão. Parecia que a conhecia de séculos e a verdade é que eu me via louco a esperar por ela quase que sempre quando sentia que a perderia. A libido sempre vinha como desculpa e tomava as rédeas do que seria uma pura e simples paixão, nunca a frisei como tal, mas perdia cada vez mais a tal da “intocável razão masculina”. Sentia me vender mais e mais aos seus caprichos de canceriana e sempre perdia a minha autonomia. Ia guardando ela em um fosso, junto com a minha auto estima também. Acho que nenhum homem se apaixona mais. Todos os outros não pensam como eu, mas creio que alguns sim.

Volto de uma praia vazia. Devia ter ido para o sossego da lagoa, mas eu quis apenas ver o movimento da rua ou até mesmo encontra-la, para tomarmos juntos o espumante que comprei para o nosso primeiro reveilon. Guardo uma taça para caso alguém apareça. Ouço fogos, gritos e sons de festejo, mas ainda sim só sou eu, minha garrafa e taça de Champagne. Descalço, de branco, sem abraços ou qualquer tipo de menção honrosa por ter passado por um período de tempo, um ano, um mês sufocado por não conseguir mais dizer volta e fazer voltar. Era apenas mais um ano em que fiquei um pouco mais distraído, mas agora nem tanto, perdi minhas gostosas preocupações. Há muito tempo não pensava só em mim, mas às vezes eu sentia falta de pensar nela, e quase sempre quando isso acontece sinto o abraço de uma forte melancolia que me come longos períodos de lapsos, em que perco fome e sono. Estou tomando anti-depressivos, mas é de vez em quando, quando eu lembro que estou triste... Mas acho que vivo uma vida normal, que infelizmente é agora, não sei, mas todos os outros pensam assim...Menos eu...

O perfume de Viane me completava a sala. Era uma entidade onipresente em minha casa, me tirava a alma e me deixava quase sempre semi-nu Me espreitava ao sair do banho e me lembrava que eu era só no fim do Ano. Não me incomodava mais as suas coisas dispersas e absortas pela sala, desdizendo e destoando com a decoração masculina habitual, não me importava mais os seus vestidos guardados como troféus em meu armário... Era a minha conquista mais austera. A mulher mais bem esculpida e sensualmente feita. Parecia tenaz em meu peito, me sufocando, fazendo-me lembrar que tenho um coração, que tenho alma, saliva, boca, sexo... Apenas voei em meus pensamentos e dexei-me levar pelo falso e enganoso perfume de Viane, que me fendia as portas, escancarava meu peito e me dizia que agora estava só como os outros.

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